Twitter anuncia fim da política de controle à desinformação sobre Covid-19

O Twitter informou nesta terça-feira que pôs fim à sua política para combater a circulação de informações falsas ou enganosas sobre a Covid-19. A decisão faz parte da controvertida missão de Elon Musk de tornar a rede social um lugar livre para discursos sem moderação.
Com o fim da prática, a empresa deixará de incluir etiquetas nas publicações que contenham desinformação sobre a Covid-19, nem acrescentará mais correções adicionais, como fazia anteriormente. Tuítes imprecisos também não serão mais excluídos, e contas que publiquem informações falsas não serão suspensas.
A mudança foi revelada por meio de uma nota publicada no site oficial da empresa. No texto, o Twitter afirma que a norma deixou de valer no dia 23 de novembro. A Bloomberg entrou em contato com a empresa para pedir esclarecimentos, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. A revisão da política foi originalmente informada pela Sky News.
Mais de 11 mil contas foram suspensas e mais de 97 mil publicações com informações falsas foram excluídas desde que a política foi introduzida na rede social, em janeiro de 2020, até a semana passada, segundo dados disponíveis no site oficial da plataforma.
O Twitter tem sido alvo frequente de críticas pela ausência de medidas contra a desinformação na última década. As críticas se intensificaram durante o governo de Donald Trump (2017-2021) nos Estados Unidos, devido aos seus tuítes polêmicos de grande repercussão, que chegaram inclusive a violar as políticas contra desinformação sobre o coronavírus.
Assim que assumiu como CEO da rede, Musk se mobilizou para reativar a conta do republicano no Twitter, mas o ex presidente ainda não fez nenhuma publicação desde que ela voltou ao ar, no último dia 19.
Exploração sexual infantil
Também hoje, foi conhecido que o bilionário reduziu drasticamente o tamanho da equipe dedicada a analisar a exploração sexual infantil na plataforma, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg. No início do ano, a área contava com 20 especialistas, responsáveis por a analisar as denúncias feitas na plataforma, e agora há menos de 10 funcionários.
A mudança acontece no momento em que parlamentares da União Europeia e do Reino Unido discutem regras de segurança que ampliem o alcancem da proteção às crianças pelas plataformas de rede social, que podem ter de pagar multas significativas caso não cumpram às determinações.
A equipe, formada por uma combinação de peritos em leis e especialistas em segurança infantil, estava espalhada nas sedes da empresa nos Estados Unidos, Irlanda e Cingapura. De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg, os profissionais já estavam sobrecarregados antes dos cortes feitos por Musk, trabalhando por muitas horas para conter a distribuição de conteúdos com abuso sexual de crianças, aliciamento de menores e canais de promoção à pedofilia.
Na semana passada, Musk tuitou que “acabar com a exploração infantil é a prioridade número 1” e convocou as pessoas a “responderem nos comentários se virem algo que o Twitter precise endereçar”.
Desde que Musk assumiu o comando da plataforma, algumas hashtags conhecidas por estarem associadas à exploração sexual de crianças foram removidos, mudanças que já vinham sendo trabalhadas antes da aquisição da rede pelo bilionário. No entanto, combater tais conteúdos nem sempre é tão simples como excluir tuítes que contenham hashtags ofensivas, afirmaram as fontes, já que os criminosos mudam constantemente os termos utilizados para não serem detectados.
Embora as ferramentas baseadas em Inteligência Artificial (IA) possam ser úteis na identificação de imagens que já foram revistas e categorizadas como material de exploração sexual infantil por autoridades, a revisão humana é particularmente importante para a compreensão das nuances do aliciamento e outros comportamentos de exploração, identificando imagens e vídeos abusivos desconhecidos e analisando as diferenças regionais nas legislações. Os especialistas também testemunham, a pedido das autoridades, em investigações criminais.
A redução da equipe na Europa e em Cingapura tornará a fiscalização desses conteúdos uma tarefa particularmente difícil em mercados não falantes da língua inglesa, afirmaram as fontes.
Os especialistas trabalharam de perto com engenheiros e gestores de produtos dedicados à criação de ferramentas e automatização que impedem a propagação do material, e também com fornecedores externos que ajudavam na classificação de conteúdo reportados por usuários.
Enquanto apenas alguns empregados foram despedidos na primeira onda de demissões, a equipe foi praticamente dizimada quando Musk pediu aos trabalhadores do Twitter para se comprometerem com uma cultura de trabalho intenso ou então saíssem da empresa. Segundo as fontes, Musk não criou um ambiente onde a equipe quisesse ficar.
FONTE: O GLOBO