Caso de racismo em consulta médica: ‘A negra tem um cheiro mais forte’, diz ginecologista durante 1ª audiência com juiz

Foto: reprodução/G1.Globo

A ginecologista Helena Malzac disse à paciente, uma jovem de 19 anos, que a maioria das mulheres negras tem cheiro forte nas partes íntimas. Uma afirmação preconceituosa e equivocada.

A denúncia de racismo aconteceu durante uma consulta médica particular, no Rio de Janeiro. A médica Helena Malzac virou ré e está respondendo à Justiça.

O Fantástico teve acesso a áudios da primeira audiência com o juiz, no fim do mês passado. A médica Helena Malzac confirmou o que disse no consultório.

“Eu disse o seguinte, que as pessoas de cor, eles têm um cheiro mais forte, pela minha experiência de 44 anos como ginecologista, atendendo a todos os tipos de mulheres, a negra tem um cheiro mais forte e aí ela perguntou, ‘mas por que esse cheiro?'”, relata.

A médica continua: “Eu falei ‘de repente, pode ser por causa da melanina, mas a gente vê que a maior parte das pessoas negras tem um odor muito forte, tanto que essas firmas de desodorante, o desodorante para negro é diferente'”.

A ginecologista disse também que pesquisou sobre o assunto. “Eu falei que a melanina também seria responsável por isso, aprendi isso na faculdade e, agora com o processo, fiz a pesquisa e achei que realmente isso ocorre.”.

Especialistas ouvidos pelo Fantástico, porém, garantem que as afirmações da doutora Helena não fazem o menor sentido.

“Não tem nenhum sentido científico você atribuir o odor a melanina ou a cor da pele, e sim à flora bacteriana de cada pessoa, que é uma coisa específica dos indivíduos”, explica Heitor Gonçalves, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

“A melanina tem relação muito grande com cor da pele. Odor vaginal é questão da mulher, né?”, afirma Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

“Você pode ter algum estudo, sim, mas não tem robustez científica, não tem robustez a ponto de ser considerado verdade científica, de forma nenhuma”, diz Gonçalves.

O que diz a médica

O Fantástico tentou falar com a médica Helena Malzac. Deixamos nossos contatos com uma pessoa que se identificou como secretária dela. Também procuramos advogados da ginecologista. Mas ninguém deu retorno.

Em defesa prévia apresentada à Justiça em janeiro, o advogado da médica afirmou que “em nenhum momento, durante o procedimento médico, ocorreu a vontade de discriminar a suposta vítima”.

Relatou também que “o objetivo do comentário da ré foi estrito e visando exclusivamente tratar o mau cheiro com forte odor na região das virilhas”.

O advogado disse também que a médica “sugeriu depilar os pelos pubianos, o que nada tem a ver com discriminação.” E que a mãe da doutora Helena “é filha de norte-americano negro casado com a sua avó de nacionalidade portuguesa, ariana com olhos na cor azul. Neste ponto, continua o advogado, “mais uma vez se comprova a ausência de dolo, porquanto a ré é filha e neta de negros e, inclusive, por tal razão pode ser considerada da raça negra”.

G1.Globo

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *