O governo federal anunciou a isenção do imposto de importação para alguns alimentos essenciais, como café, carne, açúcar e milho, com o objetivo de reduzir os preços para o consumidor. No entanto, especialistas alertam que o impacto da medida pode ser limitado.
Nos últimos meses, os brasileiros vêm enfrentando uma escalada nos preços dos alimentos, tornando cada ida ao supermercado um desafio. Com a nova medida, surge a expectativa de alívio no orçamento doméstico. A decisão do governo foi motivada pelo recorde na cotação do café, que atingiu o maior valor dos últimos 28 anos, e pela persistente inflação no setor alimentício. Mas será que essa iniciativa será suficiente para reduzir os preços nas prateleiras?
Especialistas duvidam da eficácia da medida
José Vieira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Norte (FAERN), avalia que a redução do imposto não deve gerar impacto significativo. Segundo ele, o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, e a importação de determinados produtos não trará benefícios expressivos ao consumidor final.

“A federação da agricultura analisou as medidas do governo e verificamos que, de fato, não haverá impacto significativo nos preços dos alimentos. O Brasil é o maior produtor e exportador de alimentos do mundo. Quando o governo reduz a alíquota de importação, por exemplo, para comprar carne do Mercosul, onde já é zero, ou milho dos Estados Unidos, que é mais caro, percebemos que não haverá efeito real nos preços dos supermercados”, explicou Vieira.
Outro fator apontado pela FAERN é que a inflação dos alimentos no Brasil está mais ligada ao custo de produção do que aos impostos de importação. O aumento no preço da energia e dos combustíveis encarece a produção agrícola, impactando diretamente os valores finais dos produtos.
“O IBGE já estimou uma supersafra de grãos este ano, o que deve naturalmente reduzir os preços com a colheita. Mas os produtores não conseguem absorver sozinhos os custos de energia e combustíveis, que aumentaram muito. O governo precisa focar na redução do Custo Brasil para que a comida seja cada vez mais acessível”, acrescentou Vieira.
Burocracia pode atrasar impacto da medida
Além da baixa influência da isenção de impostos nos preços, há outro entrave: o tempo necessário para que os produtos importados cheguem ao consumidor final. Eugênio Medeiros, diretor da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (ASSURN), explica que a burocracia pode atrasar a chegada dos alimentos ao mercado.
“Se eu tomar uma decisão hoje e achar um fornecedor na Europa, por exemplo, esse produto vai chegar ao supermercado daqui a 60 dias ou até mais. A importação exige burocracia, transporte e liberação de órgãos reguladores. Então, o efeito dessa isenção pode demorar a ser sentido”, destacou Medeiros.
Alternativa para a redução de preços
Diante desse cenário, o setor supermercadista defende uma solução mais eficaz para a queda nos preços dos alimentos: a redução do ICMS sobre a cesta básica. Medeiros argumenta que essa medida teria um efeito imediato para os consumidores.
“Se o governo federal conseguir que os estados reduzam o ICMS da cesta básica, essa redução será repassada diretamente para o consumidor. Uma diminuição de 6% a 8% na alíquota já faria bastante diferença”, afirmou.
Enquanto os preços seguem elevados, a expectativa dos consumidores é que, seja por meio da isenção de impostos ou de outras políticas econômicas, o custo dos alimentos possa, de fato, cair e aliviar o orçamento das famílias brasileiras.